Dezembro-me na esperança de nunca deixar de tê-la.





Dezembro-me e assim, desaguo em sentimentos genuínos, potentes e resistentes iguais a mim. Cintila a minha esperança, renasce as minhas metas, fortalece as minhas reflexões sobre mim, sobre o mundo, sobre quem eu quero que permaneça na minha vida daqui por diante, quem eu não quero nem que se submeta a estar para fazer uma boa ação. Que cumpra seus deveres sociais com outras causas, não comigo. 

É porque eu levo um sorriso solto, uma alma livre, um abraço apertado, um punhado de sonhos, uma mochila cheia de estrelas e umas histórias sobre planetas, signos, reciprocidade, amizade, amores, bicicletas, bolos e outras alegrias. Eu não sei ser morna, mais ou menos, fingir pra caber nos termos e condições, fazer a boa vizinhança por receio de não subir ao céu. Não permito gente que faz maldade disfarçada de bondade só por temer o castigo divino. A lei do retorno, a colheita que virá. Isso parece frágil, inconsistente, fora do ideal. O meu ideal é ter paz. Comigo mesma. 

Carreguei por meses uma incerteza, uma dor, uma falta, uma decepção. Mas tal qual um clichê de outrora, as pessoas sempre vão nos mostrar que confiança é algo frágil, pequeno, que facilmente pode ser quebrado. Não tem como colocá-la nas mãos de alguém sem se machucar. Confiar nas palavras que saem da boca, confiar nos olhares, na curiosidade, no conselho, no ouvinte, nos parentes. Difícil, complexo, maluco. Não me entrego mais com facilidade. 

De todos os presentes que esse ano me deu, lá vou eu fazer a retrospectiva de fim de ano: eu ganhei muito amor próprio e vários afastamentos. E isso me ensinou tanto, me deixou tão grata por sempre ser cuidada até nos mínimos detalhes. Quando mudamos a perspectiva da vida, percebemos que tudo é um pequeno milagre. Os adeus, as faltas, as falas, o que ficou por dizer, o que não foi mencionado, o que eu não soube, o que eu não fiz. Os lugares que não fui, os lugares que fui e me deu a certeza de que ali é onde eu não deveria estar. Tudo isso foi benção. Nada é em vão. 

Se hoje eu tenho mais amor próprio, se hoje eu tenho um olhar mais humano, se hoje eu sou minuciosa em detalhes que quase ninguém presta atenção, foi fruto de tudo que vivi esse ano. De todas as travas, as aberturas, as insignificâncias, os exageros, as faltas, os algozes, os labirintos, os avisos, os sinais. Tudo me fez refletir que ser egoísta por pensar em Saúde mental nos dias de hoje é quase um luxo. Porque o que tem de gente doente que adoece outras pessoas, não está estampado em jornais. 

Eu me preservo, para esse novo ano eu me conservo, me distancio do que me destoa, me reconexo com as minhas raízes, meu eu, minha solitude, meu amor próprio, meus quereres, minhas vontades, minhas metas, meus desejos pessoais. Eu quero mais de mim e menos dos outros. Eu quero ser só minha, sem depender de aprovação de alguém pra ser boa ou ruim. E nisso, serei mais chata, mais metida, mais insuportável, mais mimada, mais difícil de lidar, mais tudo. (Pros outros). Só não posso ser desigual ou subtrair-me a fim de alegrar ócios alheios preenchidos com a futilidade que o universo sociável impõe. 

Comentários

Postagens mais visitadas