Desenhei miragens tolas na margem do seu deserto e uma verdade impossível só pra ter você por perto.


Sem mais nem menos, o nosso amor aconteceu, apareceu, pariu, padeceu, cresceu, viveu, existiu. Entre escadas, ladeiras, entre o sagrado e o profano, entre amores imperfeitos e amantes memoráveis, entre bancos de praças, coretos, sonetos, alegrias, poesias, mensagens, felicidades incompreendidas e tantas vezes julgadas. Entre tudo que há de bom e tudo que é tão bom que dura o tempo necessário para nunca mais se esquecer.

Você aquecia o meu peito com afagos, com zelo, com seu colo, sua proteção invisível a olho nu, mas que com seus olhares, não ficava coberto. Sua mão pegava na minha e o mundo todo podia acabar naquele instante que nada mudaria o meu pensamento: eu queria morar no seu pra sempre, de mala e cuia, sem pagar aluguel, sem ter que me retirar amanhã, daqui há uma semama, um mês, anos. Eu só queria um pequeno espaço entre o seu ócio e a sua vida, sem precisar me retirar quando descobríssemos a rotina, os hábitos, a inércia, o cotidiano. 

Eu me vi imersa em você e na sua existência de uma forma ingênua, pura, sem maldades. De uma maneira gentil, com uma sutil certeza que poderia lidar com possíveis danos naturais de toda história, com a sabedoria de quem poderia superar qualquer problema que viesse a surgir entre o paradoxo e o paradigma. Entre o par, a dança, a música, os sonhos, o choro, os anos. Só não entendia porque nada me dava certeza do jardim, mas as flores estavam lá. Mas de manhã, as borboletas enfeitavam o estômago, os passarinhos apareciam sob os meus olhos que sorriam, sob o meu sorriso que invadia e irradiava os dias. Tempos depois eu entendi que eu via o belo porque no meu peito, dentro de mim, esse jardim existia. Não era de ninguém, era meu. Era eu. 

Eu pintei entre fotografias, memórias, cartas, estantes, as verdades impossíveis só pra lembrar você, recuperar os fantasmas seus que viviam na minha mente. Me apeguei ao pouco que você me deu, pra construir uma história linda sobre nós. Eu fui detentora de um amor que eu quis, mas que você jamais me deu. Eu fui a escritora da nossa história que parecia incrível, inefável, mas era frágil e fina como um estilhaço de vidro no território do meu coração.

Você não colheu um amor que plantei, que cuidei, que reguei. Você nunca esteve lá de verdade, no seu deserto, eu tentei ser um oásis. Mas o manancial do meu sentimento era grande demais pra caber numa história tamanho 3/4. O nosso quadro nunca sairia dos rabiscos, dos desenhos iniciais. Era impossível ter essa lembrança na estante de casa. Porque o que nunca existiu, não está lá de verdade. 


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