"(...) E sonhos não envelhecem."




O corpo envelhece, as fotos na parede da memória por muitas vezes se perdem entre as muitas tarefas do dia a dia, as prioridades mudam a medida que as responsabilidades crescem. Por muitas vezes tive que deixar de ser quem verdadeiramente sou escondida em algum canto de uma gaveta para ser o que eu precisava no momento. Por muitas vezes deixei de fazer as coisas que gosto para fazer o que determinavam que eu fizesse. E isso vai envelhecendo pouco a pouco nossa existência de forma involuntária.

Quantas vezes eu tive que fugir do que me acelerava o peito pra caber na circunstância que me cabia. Eu abdiquei de emoções, de momentos indescritíveis, de prazeres inenarráveis, de pessoas, de amigos, de quem eu poderia ter conhecido, pra caber na minha vida de "moça latino americana, sem dinheiro no banco e vindo do interior". Nisso eu perdi um pouquinho da minha essência, não pelos excessos que me foram poupados, mas pela falta de realização dos meus sonhos, sejam eles pequenos e sem importância para outras pessoas ou sejam eles grandes e de impacto a um grupo maior de pessoas além de mim mesma. 

E aí entrou muitas vezes o questionamento de merecimento: porque tem tantas pessoas que claramente não são boas pessoas e justamente por isso não mereciam estar onde estão, realizam mais sonhos do que eu? eu sentia que eu não saía do lugar, literalmente. Minha vida paralisada numa paisagem bonita de janela, onde o vento não balançava o meu cabelo, onde não tinha riacho pra se abençoar pelas águas, onde as ruas da cidade pareciam cenários finalizados de uma novela. 

Foi aí que um belo momento da minha vida após ter saído dessa "bolha" imposta, longe desse ambiente que tantas vezes foi o meu questionamento de vida, consegui entender que nenhum dos meus desejos para realizar tinham morrido ou secado dentro de mim como uma folha no outono. Que permaneciam na síntese do meu eu, fazendo parte de mim e dos meus pensamentos. Das minhas certezas e das minhas alegrias mais profundas, das minhas boas memórias, de todas as minhas intenções de felicidade. Estavam intactos, entrelaçados entre realidade, rotina, tarefas, trabalho, tédio, obrigações, e toda a "negociação" do meu tempo para sobreviver nesse mundão de meu Deus. E aí eu reafirmei dentro de mim a certeza de que sonhos não envelhecem. 

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