Eu me lembro de tudo muito bem.
Agora há chuva nas ruas por onde eu costumava passar no verão, com o vestido soltinho e o leve vento no cabelo. Não há crianças correndo pelo parque, nem idosos caminhando, nem sorrisos de férias. Eu nem preciso dizer que a tempestade chegou outra vez na selva de concreto. Entre uma distração e outra, Passo por uma esquina perto de coisas que atraem lembranças. Como no dia em que resolvemos levantar da sua cama de solteiro depois de assistirmos tv, e tomar um café às três da tarde, naquele lugar pelo do comércio, com enfeites pendurados nas janelas, vasinhos de flores, e trilha sonora de filme americano. Estava chovendo, e o clima era meio frio, você segurava minha mão bem forte, com medo que o frio chegasse entre os nossos laços. Dividíamos o guarda-chuva, e os nossos corações, sem saber.
O beijo dado ali perto, na esquina do café, cheio de desejos e harmonia, uma necessidade um do outro mútua. O meu cheiro doce e o sabor agridoce do seu café e do seu jeito na minha boca. Um leve arrepio, um sorriso espontâneo. As pessoas olhando, nós em outro mundo. Sua mão, que agora soltava a minha e apertava a minha cintura. As minhas mãos, que agora seguravam o seu pescoço deixando seus lábios sabor café da tarde. Não é estranho como tudo parece às vezes tão fácil? Lembranças...
Hoje eu caminhei sozinha por aquela avenida que já andamos de mãos dadas, muitas e muitas vezes. Percorri ruas que por muito tempo não foram só minhas. Todas tinham uma história, um marco na lembrança, digno de ser contado em toda roda de amigos, em todo conto que brigávamos para contar. Eu estava com um colar escrito: "I love you to the moon and back" (eu te amo indo a lua, e voltando) a minha verdade lavada como se o meu coração tivesse aberto, exposto, para todos que me viam. Sentia frio, e mesmo assim eu não conseguia andar rápido, queria observar tudo, pra saber se tudo realmente mudou, do jeito que nós mudamos.
Parei numa doceria, pedi um chá gelado com bolo, sentei sozinha, pela primeira vez em anos, e observei a rua, as pessoas, o tempo. Uma criança com os seus pais, um gato com o seu dono entrando em seu carro, duas amigas conversando do lado de fora do local que eu estava, um casal de namorados trocando carinhos passando na outra calçada. É bom conseguir ficar "okay" sozinha, mas eu não estava realmente bem.
Pensava em você algumas vezes, erroneamente, mas perdoando a minha burrice, pois sem ela eu não estaria caminhando para um novo começo com o aprendizado necessário a mim. As mil facetas de sentir algo por alguém é aquele mix de sensações entre estar condescendente com a humanidade e sentir intensamente e aquele sentimento de ilusão como se todo mundo lhe visse como uma idiota, e você sentisse que precisava cair na real, mas eu estava lá, agora em pé na fila esperando para pagar, as pessoas conversando, e eu me sentindo um papel amassado, jogado no chão. Eu te amei, eu queria que o meu melhor lado fosse teu, mas você não deixou isso acontecer, e eu me lembro de tudo muito bem.
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